3 de nov. de 2009

No país dos escândalos

Está disponível em alguns sites na internet a listagem de escândalos de corrupção nos últimos sete governos brasileiros, começando pela administração de Ernesto Geisel e terminando no período Lula, sem deixar de mencionar fatos ocorridos nas regências de Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Basta uma passada de olhos em cerca de duas centenas de casos referidos para que se faça uma triste constatação: a maioria não deu em nada.

Mais explicitamente: são raros os casos que terminaram com a punição dos responsáveis e praticamente inexistentes aqueles em que os recursos públicos desviados foram restituídos integralmente para a sociedade.

Como a sucessão é interminável e basta um episódio sair das manchetes para que outro mais escandaloso ganhe destaque, fica-se com a impressão de que o país perdeu a capacidade de se indignar. Não é assim, nem pode ser assim. A publicidade é sempre didática, tanto pelo constrangimento que causa aos autores de falcatruas quanto pelo alerta que provoca nos cidadãos.

Ainda que muitos dos envolvidos em irregularidades continuem na vida pública, inclusive pelo caminho democrático da reeleição, a ampla divulgação das investigações ajuda a criar uma cultura anticorrupção no país.

A questão irresolvida é outra: como transformar a indignação em resultado prático em favor da sociedade utilizando-se os instrumentos da democracia? Cada vez que uma fraude da administração pública ganha manchetes, os poderes constituídos veem-se pressionados não apenas a dar explicações, mas também a criar mecanismos preventivos para que o problema não se repita.

Porém, não é incomum que algumas autoridades apostem na amnésia coletiva e na lentidão dos órgãos judiciários para escapar da responsabilização. Pois estas falhas do sistema democrático e republicano são atenuadas pela ação de uma imprensa livre e pelo acesso cada vez mais intenso dos cidadãos à comunicação moderna. A internet suporta tudo, inclusive leviandades.

Mas também permite que fatos passados retornem à atualidade e continuem em evidência por tempo indeterminado. Possibilita que os cidadãos interajam diretamente com as instituições que os representam.

Esta abertura à participação dos indivíduos na divulgação de notícias é, ainda, um passo modesto no sentido de se criar uma verdadeira cultura de probidade no país, com instituições públicas operando de forma eficiente e agentes públicos prestando contas permanentemente aos seus representados.

Mas não há dúvida de que é pelo caminho da transparência que a sociedade brasileira haverá de alcançar um padrão ético mais elevado.

A relação de escândalos impunes é também uma listagem de indignações sublimadas pelo tempo, mas vivas e palpitantes no coração dos homens e mulheres deste país que anseiam por uma sociedade mais justa.

Fonte:Zero Hora

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