7 de abr. de 2010

Em pouco mais de 24 horas, 96 mortes foram registradas no Estado do Rio de Janeiro

(Último Segundo)Em pouco mais de 24 horas, 96 mortes foram registradas no Estado do Rio de Janeiro por conta das chuvas que atingem a região desde a última segunda-feira. A maioria dos óbitos, segundo o Corpo de Bombeiros, foi provocada em razão de deslizamentos de terra ou desabamentos ocorridos em áreas de risco.

O número de incidentes em morros urbanos, segundo a Secretaria Nacional da Defesa Civil, tem aumentado a cada ano de forma “alarmante” devido ao crescimento desordenado das cidades e à consequente ocupação, promovida geralmente pela população mais carente, de novas áreas irregulares.

Nas entrevistas que concedeu nesta terça-feira, em meio às tempestades, o governador do Rio Sergio Cabral (PMDB), por exemplo, disse que a tragédia foi agravada por ocupações irregulares e voltou a defender a construção de muros em torno de comunidades para frear a ocupação irregular do solo.

“No Rio de Janeiro entra ano, sai ano e essa missão da ocupação do solo urbano não é tratada com a devida seriedade. Quando dissemos que construiríamos um muro na Rocinha, íamos garantir a vida das pessoas. Não é possível a construção irregular continuar. Quase todas as pessoas que morreram estavam em áreas de risco”, avaliou.

De acordo com a Defesa Civil Nacional, deslizamentos são provocados pelo escorregamento de materiais sólidos, como rochas, vegetação ou materiais de construção, ao longo de terrenos inclinados – as chamadas encostas.

070410_chuva.jpgA época de ocorrência dos deslizamentos coincide com o período das chuvas, intensas e prolongadas, já que as águas escoadas e infiltradas desestabilizam essas encostas. Como terrenos nos morros são inclinados, a água entra na terra e provoca deslizamento e destruição de casas. O problema, sempre de acordo com a Defesa Civil, é comum em áreas de adensamento populacional de municípios de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco.

A exemplo do que já havia acontecido em Angra dos Reis, no início do ano, a maior parte das vítimas das chuvas desta vez morava em áreas de risco e encostas. As 35 mortes registradas na capital fluminense aconteceram em comunidades instaladas em locais como os morros dos Prazeres (14 vítimas), dos Macacos (5), do Borel (3), do Turano (5) e na Ladeira dos Guararapes (1), por exemplo.

A chuva que começou no fim da tarde da segunda-feira, dia 5, foi a maior que o Rio já registrou. Em menos de 24 horas, foram 288 milímetros de precipitação. Na chuva histórica que destruiu a cidade em 1966, choveu 245 milímetros em 24 horas. Os cinco pontos com maior volume de chuvas desta vez foram Sumaré (356 milímetros até as 18h), Jardim Botânico (303 milímetros), Rocinha (302 mm), Maciço da Tijuca (280 mm) e Vidigal (265 mm).

A situação na capital fluminense é ainda agravada em razão das águas do mar, que sobem por influência da alta maré e da ressaca, que "seguram" as águas que caem dos morros que contornam o município. O nível da Lagoa Rodrigo de Freitas, por exemplo, que normalmente é de 50 centímetros, chegou a 1,40 metro nesta terça-feira.

Apesar do alto volume de precipitações, os danos poderiam ter sido evitados ou reduzidos com a adoção de ações preventivas nos centros urbanos e nessas encostas, de acordo com o presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian. Professor de mecânica dos solos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Bogossian defende que os municípios adotem o tratamento preventivo, ou passivo, antes que comecem a ocorrer deslizamentos de terras.

Uma das soluções apontadas por ele é que seja providenciada a drenagem, superficial e profunda, que custa mais barato – cerca de 10% - de uma eventual obra de estabilização de encosta.

Segundo o professor, problemas estruturais causados por construções irregulares em encostas não se resolvem em curto prazo.

Bogossian afirma ser necessária a desobstrução da saída das águas, principalmente nas zonas baixas da cidade. Outro aspecto fundamental, diz, é o da limpeza das ruas e dos morros. O lixo jogado nas ruas vai para os ralos e bueiros, entupindo-os e impedindo a saída da água das chuvas.

Para Bogossian, o forte temporal que atingiu a capital fluminense foi um problema excepcional. “Não é um problema corriqueiro. Esse é um aspecto que não pode ser esquecido para não sair por aí achando culpados”, adverte.

"É claro que ninguém nega que existam deficiências e problemas estruturais, mas não há galeria pluvial limpa que segure este volume de água", afirmou o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que durante o dia fez um apelo aos moradores de áreas de risco para deixarem os locais.

Cuidados

Para evitar desastres em regiões de morro, a Defesa Civil orienta a população a não aceitar promessas “fáceis e ilusórias” para obter lote em áreas de encostas. Caso as construções sejam instaladas nesses lugares, a orientação é para que não haja desmatamento nem cortes de terreno nas encostas para assentamento de casas. Nessas regiões, a Defesa Civil deve ser acionada para providenciar a instalação de lonas plásticas nas barreiras, que devem ser protegidas com vegetação com raízes compridas, gramas e capins que sustentam mais a terra.

Em caso de vazamento, é necessário providenciar o conserto o mais rápido possível e não deixar a água escorrendo pelo chão. As barreiras em morros devem ser protegidas por drenagem de calhas e canaletas para escoamento da água da chuva. O acúmulo de sujeira e lixo ajuda a entupir a saída de água e aumenta o peso e o perigo de deslizamentos – a ideia é não dificultar o “caminho das águas”.

Outra orientação das autoridades é para que os moradores não plantem bananeiras ou plantas de raízes curtas nesses terrenos. Isso porque as raízes dessas árvores não fixam o solo e aumentam os riscos de deslizamentos. Plantações como mamão, coco, banana e jaca só ajudam a acumular água no solo e podem intensificar quedas de barreiras.

Em caso de risco de deslizamento, é recomendado que os moradores avisem os vizinhos dos riscos e acionem o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. Durante as chuvas, é necessário deixar as casas – para isso, a recomendação é para que a comunidade elabore previamente um plano de evacuação, com sistema de comunicação como alarmes para orientar os demais moradores para deixarem a área.

Aparecimento de fendas, depressões no terreno, rachaduras nas paredes, inclinação de troncos de árvores, postos e o surgimento de minas d’água são sinais que indicam que poderá acontecer deslizamento na área.

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