18 de jan. de 2010

A vantagem das inovações "mistas"

A vantagem das inovações "mistas"

Muita gente cai em uma grande contradição ao falar dos processos de inovação tecnológica e comercial ocorridos no Japão e na Coreia. Por um lado, admiram as histórias de sucesso vindas de corporações como Honda ou Sony. Por outro, fazem pouco caso das mesmíssimas histórias, relegando-as a um segundo plano. Chamam-nas de "imitações" - produtos e serviços bastante semelhantes aos criados originalmente nos departamentos de inovação de empresas ocidentais.

Não restam dúvidas de que essas empresas asiáticas estão trazendo ao mundo inovações de alto impacto que outras não conseguem reproduzir. Mais ainda, estão agradando aos seus clientes e agregando valor a suas marcas. Em vez de diminuir essas conquistas, chamando-as de imitações, proponho adotarmos outra forma de descrever esse sucesso - uma forma que nos ajude a aprender com o sucesso em vez de ignorá-lo.

O primeiro passo nesse processo de aprendizado consiste em uma mudança de vocabulário. As pesquisas sobre os grandes avanços da inovação revelam que companhias como Honda e Sony adotaram uma estratégia de inovação intermediária. As soluções ficam entre o mundo de hoje e o mundo "ideal" do futuro. Essa estratégia, que à primeira vista parece incremental, geralmente é o que basta para criar a inovação, surpreender clientes e criar barreiras competitivas. É o que chamamos de "inovação mista".

O caminho do meio

Muitas companhias ocidentais ainda pensam na inovação como um meio de criar guinadas radicais de diferenciação e crescimento orgânico. Essa abordagem, porém, já não se encaixa mais na realidade do mundo de hoje. Os saltos evolutivos exigem grande conhecimento novo e muita experimentação, recursos e tempo - que são sempre escassos. Os resultados das grandes inovações não costumam ser claros e os prazos são difíceis de prever. A paciência dos altos executivos com a incerteza está diminuindo. Além disso, não costuma haver uma continuidade nas iniciativas de pesquisa quando há troca de liderança. Assim, enquanto esperamos por grandes inovações no Ocidente, as empresas orientais estão tomando o mercado e construindo marcas de valor com base em "inovações mistas".

Examinemos dois exemplos destacados de inovação mista: automóveis híbridos (movidos tanto a gasolina quanto a energia elétrica) e baterias líquido-sólidas de íon-lítio. No primeiro caso, a solução ideal seria o automóvel movido 100% a eletricidade. GE, Ford e BMW vêm trabalhando há anos na substituição de motores de combustão por outros 100% elétricos, alimentados por baterias ou células de energia. A ideia dessas empresas era continuar melhorando o motor a combustão ao mesmo tempo em que enfrentavam a difícil tarefa de criar um veículo elétrico.

Enquanto isso, Honda e Toyota decidiram adotar um passo intermediário. Elas perceberam que: 1) veículos a gasolina já tinham a infraestrutura necessária para reabastecimento; e 2) as baterias ainda estavam longe de ter a potência e a energia que o mercado espera de um automóvel. Ao mesmo tempo, as montadoras asiáticas perceberam que uma solução parcial, com bateria, também seria útil - pois permitiria um bom aumento de quilometragem por litro em comparação a veículos convencionais. É essa mistura entre tecnologias existentes e inovadoras que fez com que o Toyota Prius surpreendesse o mundo enquanto os carros 100% elétricos seguem estacionados nas pranchetas dos projetistas.

A solução estava no gel

Já no caso das baterias de lítio, a solução ideal seria uma bateria para telefones celulares em estado sólido, que não vazasse. Motorola, 3M e Bell Labs passaram a década de 90 trabalhando no desenvolvimento de uma bateria com eletrólitos de polímero sólido. O objetivo era criar uma bateria para celulares que fosse recarregável, sólida, flexível e moldável. A Sony e a Toshiba, no entanto, decidiram dar o passo intermediário: uma solução em gel. Por serem líquidas, as baterias tinham maior potência que as verdadeiramente sólidas. Ao mesmo tempo, a consistência do gel prevenia os vazamentos. Assim, enquanto os norte-americanos buscavam uma bateria 100% sólida, os japoneses já haviam lançado uma solução intermediária no mercado. Pouco depois, os lucros gerados por essas inovações mistas ajudaram os japoneses a custear o desenvolvimento de baterias sólidas antes dos rivais americanos.

Quando se fala em produtos e serviços inovadores, é bom sonhar alto. Mas não se pode perder de vista o caminho. Às vezes, a melhor maneira de chegar ao sonho é por meio de soluções intermediárias entre as realidades de hoje e a solução ideal do futuro. Essa é a inovação mista, uma maneira de encontrar vantagem competitiva sustentável em passos incrementais.

Fonte:Revista Amanhã

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