27 de abr. de 2010

Começa amanhã a ação para pacificar favelas da Tijuca

Começa amanhã a ação para pacificar favelas da Tijuca

Governador anuncia o início da ocupação para instalar a UPP do Morro do Borel, que vai beneficiar ainda outras três comunidades do bairro

Rio - A Tijuca será o primeiro bairro da Zona Norte a ganhar uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a oitava do Rio. O governador Sérgio Cabral anunciou ontem que começa amanhã a ocupação de pelo menos quatro comunidades do bairro — os morros do Borel, da Formiga, Chácara do Céu e Casa Branca — para a instalação da futura UPP. Mais de 100 homens dos batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Choque vão participar da ação.

A sede da unidade, que deverá estar em operação no mês que vem, ficará no Borel. “Vamos levar a tranquilidade que aquele povo merece. A região sofreu muito com a presença dos criminosos”, disse Cabral, durante a inauguração da UPP do Morro da Providência. O governador informou que parte dos 1.020 policiais que se formaram na semana passada vão reforçar o policiamento na área da Tijuca. “Eles estarão colaborando com os policiais da UPP para que aquela região possa ter dias melhores. Temos certeza que levaremos a paz à Tijuca e ao Borel”, afirmou.
Foto: Deisi Rezende / Agência O Dia
No Morro da Providência, onde a UPP foi inaugurada ontem, tiros dão lugar à pacificação | Foto: Deisi Rezende / Agência O Dia

Os moradores já comemoram. “Estamos ansiosos. Há uma necessidade muito grande de uma UPP aqui”, disse Luiz Lavor, delegado do Conselho Regional de Corretores de Imóveis e integrante do Conselho Comunitário da Tijuca. A chefe de gabinete da subprefeitura da Tijuca, Maria do Céu Gouveia, também está otimista. “As UPPs têm apresentado bons resultados em outras áreas da cidade. É possível que isso aconteça em qualquer lugar onde haverá uma UPP”, afirmou.

Mas enquanto a unidade não é instalada, moradores da região ainda sofrem com ações de criminosos. No Grajaú — onde, no fim de semana, bandidos promoveram um arrastão que se estendeu até a Tijuca —, um grupo de vizinhos criou uma rede social contra a criminalidade pela Internet. A ideia de um vizinho de alertar outros moradores sempre que tiver uma situação suspeita na Rua Canavieiras começou ano passado. No trecho da via, já há guarita, cancela e câmera de segurança.

Comunicação permanente

Integrante da rede social, a professora aposentada Consuelo Teixeira, 72 anos, conta que os moradores ligam uns para os outros quando percebem movimentação estranha.Discretamente, os vizinhos acompanham tudo das janelas e varandas e informam ao ‘segurança’ da rua pelo celular. O funcionário, então, fica responsável por avisar à polícia.

“O policiamento se concentra na Praça Edgar Rego, onde está a cabine blindada da PM. Não é sempre que vejo policiamento, principalmente na minha rua, talvez porque já tenha cancela e um segurança. Mas, para espantar o medo, uma brincadeira acabou virando essa rede. Um vizinho começou a ligar para os moradores e hoje cinco prédios já participam disso”, contou Consuelo, que evita sair à noite e, quando isso acontece, prefere andar de táxi e deixar o carro na garagem. Antes de chegar à sua rua, porém, observa, atenta, a movimentação.

Também morador do Grajaú, o mestrando em Filosofia Vinícius Carvalho, 26 anos, acredita que os assaltos sejam reflexo da instalação das Unidades de Polícia Pacificadora. “Eles perderam os pontos de tráfico na Zona Sul e estão tentando ganhar de outra forma no asfalto. Na medida em que um crime acontece, a polícia reforça os homens na rua, mas nem isso eu vejo por aqui. As ruas mal iluminadas, também por causa das árvores, são outro problema”, destacou.

Para a presidente da associação de moradores de Grajaú, Jucélia Bessa, a UPP da Tijuca não vai resolver o problema da criminalidade na região. “A polícia trabalha com policiais muito aquém do necessário. A solução é mais policiais. Tenho medo de que os criminosos migrem para o Morro do Andaraí, que está tranquilo. Os assaltos aqui têm sido cometidos por bandidos de outros lugares”, acrescentou a líder comunitária.

A polícia já identificou quatro bandidos que participaram do arrastão de domingo. Um deles, segundo as investigações, é um adolescente de 17 anos.

Na Providência, unidade já funciona

A animação das autoridades durante a inauguração da UPP contrastou com a presença tímida de moradores do Morro da Providência. Poucos foram à solenidade e não quiseram falar sobre a UPP. Mesmo assim, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, mandou um recado. “O senhores não estão sós. Mas o mais importante é que estão livres de um juízo imposto por armas de guerra”, disse ele.

Já Cabral aposta na segurança para levar o turismo à favela, como O DIA mostrou dia 23. A ideia é do comandante da UPP da favela, capitão Glauco Schorcht. “Teremos pessoas visitando a comunidade sem medo da troca de tiro. Não é possível que a gente ache normal que o poder paralelo esteja presente determinando quando uma pessoa sobe e desce”, discursou Cabral. “Agora é colocar os projetos em prática”, espera o capitão Glauco.

O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, prometeu o fim dos confrontos. “A nossa presença não é mais para cobertura de combate sangrento”, falou o oficial. Assim como Cabral, o prefeito Eduardo Paes também anunciou novidade. “ Vamos trazer teleférico para cá”, avisou.

Polícia trabalha para evitar novos ataques no Grajaú

O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que a polícia está trabalhando para evitar ataques como os do fim de semana no Grajaú. “A polícia tem boas informações. O serviço de inteligência está trabalhando bem. Vamos atuar a curto e médio prazo. Também temos planejamento para esses tipos de ações”, afirmou ele. De acordo com a titular da 20ª DP (Vila Isabel), Leila Goulart, quatro assaltantes da região já foram identificados e dois já têm mandados de prisão. Os jovens seriam moradores de ruas de acesso aos morros da Divinéia e Borda do Mato, no Grajaú. Um dos suspeitos seria um rapaz de 17 anos.

O comandante do 6º BPM (Tijuca), tenente-coronel Fernando Príncipe, disse que, apesar da redução no número de assaltos, reforçou o policiamento até com motos. Ele disse ainda que pediu a subprefeitura para podar as árvores, um dos problemas indicados pelos moradores. “Para distribuir o policiamento, perseguimos a mancha criminal e conseguimos neutralizar diversos delito, mas eventualmente casos acontecem em outros lugares. Não temos muitos recursos para aplicar ali e deslocamos as motocicletas, que não prejudicam outras áreas”, explicou ele.

Fonte: ODIA
Reportagem de Maria Inez Magalhães e Paula Sarapu

Nenhum comentário:

Postar um comentário