14 de out. de 2009

Com as fábricas em plena operação, alguns setores voltam a investir

Empresas que priorizam o mercado interno voltaram a produzir no mesmo ritmo de antes da crise e já retomam os investimentos.

Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que fabricantes de material de construção, bens de consumo duráveis e material de transporte estão utilizando quase 90% da capacidade instalada, patamar próximo ao de antes da crise e acima da média dos últimos 10 anos.

Com a ajuda desses setores, que foram beneficiados por desonerações tributárias, o ajuste da indústria brasileira foi mais rápido do que se imaginava. Um ano depois da crise global atingir o País, as empresas enxugaram os estoques, voltaram a contratar e recuperaram o patamar histórico de produção. "A indústria está virando essa página", disse o coordenador da Sondagem Industrial da FGV, Aloísio Campelo.

Mas o desempenho ainda é heterogêneo, os setores exportadores continuam com uma capacidade ociosa significativa. Na média, o nível de utilização da capacidade da indústria da transformação atingiu 81,9% em setembro.

Ainda é um patamar baixo, inferior aos 85,4% de setembro de 2008, quando algumas empresas operavam em três turnos, mas próximo da média de 82,2% registrada desde 1999.

Para o economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Fernando Puga, "o País já atingiu um nível de utilização da capacidade que detona os investimentos". Os cálculos do banco mostram que, historicamente, as empresas investem quando o indicador supera 80%. Ele ressalta que não é um retorno ao patamar pré-crise, quando a taxa de investimento crescia 20%, mas já é uma virada.

Os segmentos agraciados com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) lideram a retomada do investimento. Em setembro, os fabricantes de material de construção utilizaram 89,3% da capacidade, nível próximo dos 90,7% de setembro de 2008 e acima da média de 83,5%.

Ao atingir esse patamar, algumas empresas do setor começaram a investir. É o caso da Votorantim Cimentos, que inaugurou esta semana uma nova unidade de produção em Aratu, na Bahia. O investimento foi de R$ 50 milhões. A fábrica faz parte de um plano de expansão da capacidade da empresa até 2011, que vai absorver investimentos superiores a R$ 2 bilhões.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, ressalta que as perspectivas para o setor de construção civil são muito boas por causa das obras que serão necessárias para realizar a Copa do Mundo, a Olimpíada e explorar as reservas de petróleo do pré-sal. "A indústria vai precisar produzir mais. No curto prazo, está se recuperando da crise. E, no longo prazo, o cenário é positivo."

Os fabricantes de bens de consumo duráveis, como geladeiras ou fogões, também atingiram um patamar de produção que estimula os investimentos. O nível de utilização da capacidade chegou a 88,9%, próximo aos 90,6% de setembro de 2008. Os empresários ainda tem receio, no entanto, de qual será o novo patamar do mercado em 2010, depois que o prazo de redução do IPI terminar.

Para o economista do JP Morgan Júlio Callegari, os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre vão evidenciar a volta do investimento, que foi duramente prejudicado pela crise. Nas contas do banco, o consumo interno de bens de capital cresceu 2,2% em julho e agosto em relação à média do segundo trimestre, sem efeitos sazonais. E a produção de insumos para a construção civil também aumentou 2,1% na mesma comparação.

Os economistas ressaltam que o atual nível de utilização da capacidade não representa risco inflacionário. Eles argumentam que o câmbio valorizado incentiva as importações e funciona como freio. "Não temos que ter medo de aumentar a capacidade ", disse o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

O setor de material de transporte, que inclui a cadeia automotiva, teve uma recuperação da produção, mas ainda sofre com a queda das exportações. O nível de utilização da capacidade instalada chegou a 86,7% em setembro, abaixo dos 92,3% de setembro de 2008, quando muitas fabricantes de autopeças operavam no limite. A média histórica da categoria é muito baixa, de 79,8%.

A General Motors anunciou em julho que vai investir R$ 2 bilhões para produzir um novo veículo na fábrica de Gravataí (RS). A produção da unidade gaúcha subirá dos atuais 230 mil unidades por ano para 380 mil em 2014.

A fabricante de autopeças Freudenberg-NOK decidiu incrementar a capacidade de produção em 15% e as novas máquinas chegarão em breve. "Disparamos os investimentos porque estamos operando sete dias por semana", conta o presidente da empresa, George Rugistsky. A empresa também tem planos de trazer novas linhas de produtos para o País.

Fonte:O Estado de São Paulo

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