6 de out. de 2009

Trânsito é a principal causa de morte de crianças

Alessandra Françóia - “Entre os acidentes, o trânsito é a principal causa de morte de crianças. São 2.300 mortes todos os anos no País. A sociedade, as autoridades e as empresas precisam trabalhar com a prevenção, a principal forma de evitar que esses acidentes aconteçam”.

Para 2010, os trabalhos da ONG Criança Segura, que faz parte da rede internacional Safe Kids Worldwide de promoção da prevenção de acidentes com crianças e adolescentes até 14 anos, estarão focados na Resolução 277/08, que obriga o uso de cadeirinha de segurança para criança no carro. Em entrevista à Agência ABCR, a coordenadora nacional da ONG, Alessandra Françóia, defende que a Resolução precisa ser reavaliada em relação à sua abrangência etária e aplicação nos transportes públicos e escolares.


Agência ABCR – Quais são os principais projetos e frentes de atuação da ONG Criança Segura?

Alessandra Françóia - A ONG Criança Segura trabalha com três frentes estratégicas: comunicação, políticas públicas e mobilização para prevenção. Desenvolvemos programas educativos, de capacitação de colaboradores, ações de mobilização, sistematização de informações relacionadas à prevenção e realização de alertas públicos. Fazemos também o monitoramento e a articulação na formação de políticas públicas que tenham como foco a prevenção de acidentes, visando a saúde e a garantia dos direitos da criança e do adolescente. Temos um escopo de ação que vai além dos acidentes de trânsito, abrangendo também os acidentes domésticos e de lazer. Atuamos para promover a cultura de prevenção de acidentes dentro e fora da escola, com o intuito de reduzir o número de acidentes envolvendo crianças e adolescentes até 14 anos.


Agência ABCR – Quais são os trabalhos em que a senhora está envolvida no momento?

AF - Para 2010, vamos trabalhar com a efetivação da Resolução 277/08, que obriga o uso de cadeirinha de segurança para criança no carro. Será criado um portal com o qual desenvolveremos um trabalho de educação à distância.


Agência ABCR – Como a senhora avalia a Resolução 277/08?

AF - A Resolução já está vigente, mas sua fiscalização entrará em vigor a partir de 2010. Vejo a resolução como uma iniciativa excelente, que, no entanto, ainda precisa ser aprimorada. A Resolução estabelece, por exemplo, o uso do equipamento para crianças até sete anos e meio. Acontece que algumas crianças, com essa idade ou um pouco mais velhas, ainda são pequenas para utilizarem os cintos de segurança. Por isso, nós recomendamos que, em vez da idade, o peso seja utilizado como referência. Acreditamos que uma criança de até 36 quilos deve ser transportada em assento especial, o que abrange a faixa etária em torno de 10 anos. Além disso, a Resolução não estabelece requisitos para táxis nem para os transportes escolares. O que é mais uma falha, pois deveria abranger principalmente o transporte escolar.


Agência ABCR – Qual o impacto dos acidentes de trânsito em relação às crianças?

AF - Entre os acidentes, o trânsito é a principal causa de morte de crianças. São 2.300 mortes todos os anos no País. A sociedade, as autoridades e as empresas precisam trabalhar com a prevenção, a principal forma de evitar que esses acidentes aconteçam. Atropelamentos e acidentes com crianças ocupando veículos e bicicletas são os tipos mais comuns de morte infantil. Depois dos acidentes de trânsito, o segundo principal problema envolvendo crianças são os afogamentos. s


Agência ABCR – Quais os principais tipos de cuidados que os pais ou responsáveis precisam tomar para evitar os acidentes de trânsito?

AF - O uso da cadeirinha, de capacete e/ou equipamento de segurança e o acompanhamento de crianças no trânsito, pois elas não têm condição de julgar o trânsito com a segurança de um adulto, são importantes cuidados. Em relação à infraestrutura, ela precisa de espaços seguros que priorizem os pedestres, como as passarelas.


Agência ABCR – Alguns especialistas afirmam que a fiscalização rigorosa é o fator mais eficiente na redução dos acidentes. A senhora concorda?

AF - Com certeza. Juntamente com as campanhas educativas, a fiscalização mais efetiva pode trazer uma grande mudança nos dados estatísticos. Além de apenas aplicar a multa, seria proveitoso explicar o motivo, educar, explicar melhor para a população o motivo dos acidentes.


Agência ABCR – Qual é a importância de incluir o ensino do trânsito nas escolas?

AF - É importante trabalhar isso inserindo aspectos de valor, como cidadania e respeito. O ensino do trânsito nas escolas ainda está numa fase bastante embrionária, pois não se aprofunda em aspectos relacionados à cidadania e ainda não é uma realidade aplicada em todas as escolas. Isso devido a uma série de questões, como o excesso de trabalhos e conteúdos escolares, por exemplo. Por isso, acredito que a proposta de transcender os muros da escola é uma forma de viabilizar esse trabalho de educação e conscientização, trabalhando na educação não formal com as comunidades, envolvendo outras categorias para que isso seja usado de forma prática.


Agência ABCR - Que experiências adotadas em outros países para diminuir os acidentes no trânsito envolvendo crianças poderiam ser adotadas no Brasil?

AF - A Criança Segura faz parte de uma rede internacional, o Safe Kids Worldwide, que integra 19 países, como China, Índia, Canadá e EUA. Esses países trabalham fortemente para promover a prevenção de acidentes com crianças e adolescentes até 14 anos, atuando junto à comunidade com programas de prevenção e estratégia de comunicação, entre outros esforços. A experiência desses países mostra que o embasamento estatístico é primordial para trabalhar a mensagem e envolver a comunidade adequadamente.

Por exemplo, ensinar aspectos relacionados à educação no trânsito com oficinas de fotografia, de grafite e brincadeira, formando grupos multiplicadores, para ter a mensagem disseminada para cada vez mais pessoas. Assim, as pessoas passam a ser protagonistas do processo. Em termos de segurança, existe uma experiência interessante que é o bus walking, que existe na China há seis anos.

Trata-se de um ônibus “à pé”, formado por dois monitores, um a frente e atrás, que passam nas casas das crianças para levá-las às escolas de uma forma divertida e segura, diminuindo o grande índice de atropelamentos de crianças que vão para a escola.

Fonte:Agência ABCR

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